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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Consciência Negra não! Memória Preta!



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O Opróbrio a Zumbi.  E um viva a Castro Alves, a Cruz e Souza e a Machado de Assis!

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O motivo que  me faz não gostar da palavra  negro para designar uma cor é porque esta palavra carrega mais sentido do que a simples designação visual. E se as outras linhas étnicas são todas chamadas por uma cor que as identifique, porque então para os pretos deveria ser diferente? Não são os povos: amarelos, vermelhos e brancos? Porque atribuir à pessoa preta, algo que seja mais que uma cor? Para mim não parece próprio… Negro na nossa cultura l pode significar aquilo que é sombrio, por exemplo… Nos EUA, os pretos são apenas blacks, chamá-los de ``niger`` é considerada uma atitude de racismo. Lá, a patrulha do politicamente correto parece querer lançar mão do termo ``afro-americano``. Também não acho a última adequada para o uso comum, acho, ademais uma distinção injusta para aqueles que como brancos e vermelhos descendem de gente que ajudou a construir a história dos EUA, de gente que nasceu em solo americano… Para fazer justiça teriam de chamar todo branco de ``euro-americano`` ou vermelho de nativo-americano… Não acho que é assim que se faz…
Também há a palavra raça, que deve ser, ao meu ver, rejeitada. Ora,  existem diferenças físicas entre gente da ``mesma cor``, entre um russo e um francês, entre um chinês e um japonês, entre pigmeus e zulus africanos… Até incas são diferentes de maias que são diferentes de apaches americanos que se diferem de moicanos, que não se parecem muito com ianomâmimes que tem traços diferentes dos  xavantes e que se distinguem dos pataxós. Se fossemos considerar todas essas linhas étnicas teríamos centenas de raças, e o conceito de raça já caiu. Não há que se comparar por exemplo a diferença entre duas raças caninas, como insistem em fazer alguns ignorantes… No caso dos cães, um pitbull, por exemplo nos dá um feedback instintivo bastante diferente de um labrador… Aí sim, temos raças... É notório porém, para todo ser civilizado e inteligente que as diferenças físicas que existem entre os homens não são substanciais para definí-los… Um homem é produto das suas ações individuais, da experiência familiar, das práticas ancestrais do seu meio social, de como exerce sua consciência em relação às tradições que o cercam… Por mais diferentes que os homens sejam na aparência, na cultura e nos costumes, eles tem toda uma gama de possibilidades e potencialidades que os incluem todos numa única raça: a raça humana.
A palavra consciência também não é própria. Consciência tem a ver com foro íntimo, com a capacidade de julgar. Me parece que os amantes das ideologias revolucionárias, tais como o marxismo, se apropriaram deste uso justamente para ao eleger um tirano como herói dos negros, impregnar a cultura nacional de mais um símbolo que se traduz na visão revolucionária adquirida artificialmente por muitos brasileiros. Em outros miúdos, Zumbi foi erigido para pensarmos vermelho. Que o digam as elites acadêmicas! A resistência de Zumbi está recheada de justiçamento a outros negros e da imposição da escravidão a outros pretos, fazendo de Palmares uma espécie de Estado Totalitário inimigo da Coroa Portuguesa, que outrora, inclusive, havia feito uma oferta de paz… Não estou dizendo que os portugueses eram bonzinhos, mas também, com o material que temos hoje, parece ficar difícil dizer que o ``Fantasma imortal`` dos Palmares era flor que se cheirasse…
Diante desses fatos, o que fazer? O que fazer quando um feriado está posto de maneira a coletivizar um pensamento revolucionário, elevando um altar onde ser preto significa participar de movimentos afros que praticam necessariamente o candomblé e a capoeira, onde pra ser um ``preto consciente`` é necessário cultuar orixás e participar de rodas de samba? E vejam bem, eu acho que é possível e interessante os estudos das religiões africanas. O fato de agirmos com cautela em relação a elas é devido a uma relação diferenciada da que temos, por exemplo com os deuses nórdicos, gregos, celtas e romanos que foram devidamente, me permita dizer assim, sepultados pelo cristianismo, embora neo-pagãos do norte da Europa pós-cristã fiquem querendo ressucitá-los…. Achamos legal falar de Atenas, Thor e Zeus por exemplo. A distância da prática religiosa em relação a esses deuses faz-nos brincar com suas imagens sem comprometer o nosso cristianismo. Acontece que os deuses africanos ainda hoje são francamente cultuados e adorados. E um dos problemas dos movimentos progressistas é que o tema religioso, que deveria ser, no nosso mundo civilizado, um assunto de busca pessoal, e a priori, adulta, torna-se uma patente cultural importante que representa a cor… Como se os orixás representassem os pretos! Ora, não é porque eu sou preto que eu tenho de ser ``macumbeiro``! Não é porque os pretos do Brasil sofreram que as escolas tem de enfiar goela abaixo das crianças - que são geralmente muito emotivas e que precisam crescer no uso da razão, as supostas  belezas dos cultos africanos, desrespeitando a herança familiar religiosa que recebem: seja ela protestante, católica, kardecista, budista ou qualquer que seja… Não é certo, de maneira alguma, argumentar em defesa dos oprimidos de uma cor colocando-os sob uma bandeira religiosa quando na verdade os indivíduos dessas origens étnicas professam as mais diferentes religiões. A civilização ocidental deveria permitir justamente a liberdade de escolha. Cada um é livre pra escolher se quer ser rastafari, evangélico, induísta, taoísta ou religião que o valha… Eu acredito que uma das grandezas do processo civilizatório é a liberdade que os indíviduos passam a ter nas sociedades que chegam na maturidade democrática. Se aqui no Brasil, os movimentos anti-racismo insistem em afirmar confissões religiosas africanas de maneira autoritária e artificial, nos EUA a confissão das comunidades pretas tornou-se protestante, e isso de maneira natural, sem uma pseudo-liderança mor que os abrigasse debaixo de uma grande bandeira luterana, por exemplo. Foi um fenômeno comunitário comum, onde pretos voluntariamente decidiram abraçar o cristianismo. As notas da escala pentatônica, chegadas da África, em contato com a fé abraçada pelos escravos deram origem aos spirituals. Eram , na sua maioria, lamentos fervorosos e cheios de emoção dirigidos ao Criador. Os spirituals deram corpo ao que viria a ser chamado de Gospel. Sem o Gospel não haveria o Blues, sem o Blues não haveria o R&B, sem o R&B não haveria nem o Funk nem o Soul… Sem a mistura interessante entre Blues, Country e Folk, nos faltaria o Rock… Sem todos esses gêneros de música black, talvez não teríamos o Jazz, ou ele demoraria, ainda muito tempo para aparecer… Graças às etnias de ébano, a música ocidental é infinitamente mais rica do que seria sem elas. Aqui no Brasil não teríamos o samba, e não teríamos feito nascer a Bossa Nova... O fato da comunidade negra americana se expressar através do gospel é um dado interessante… No Brasil os pretos além de discriminados, sofreram com uma sociedade aristocrática fortalecida que produziu por conseguinte  uma diminuta liberdade real  na vida prática. Como consequência, a integração nos aspectos da civilização européria foram reduzidos para a parte preta do povo brasileiro. Este é um dos fatores porque numa população como a do Brasil, onde oficialmente cerca de 50% das pessoas são pretas, nós ainda tenhamos uma quantidade de pessoas influentes da nossa cor muito inferior a dos EUA. Temos menos intelectuais pretos, menos cantores pretos conhecidos, menos atores pretos famosos e assim por diante… Nos EUA com toda a injusta e perversa segregação da época, a possibilidade real de exercer a liberdade, sempre foi muito maior. Resultado: Os pretos de lá - cerca de 14% -  ascenderam socialmente muito mais que os daqui.  Proporcionalmente em relação aos brancos, o número de ilustres pretos nos EUA é bem maior do que no Brasil. A luta nos Estados Unidos foi pelos direitos civis com o Rev. Martin Luther King Jr., grande ícone contra a segregação racial, não foi uma luta por privilégios, como as  cotas, tão defendidas hoje por partidos de esquerda proporcionam. Luther King clamava apenas  por direitos iguais. A sua luta transformou-se em feriado nacional, sancionado anos depois de sua morte, pelo presidente Reagan e celebrado em todas as partes dos Estados Unidos. Estados racistas ou não tiveram de reconhecer a data como o dia da luta dos direitos humanos, ou o dia dos direitos civis… Uma luta que começou pelos pretos tornou-se uma plataforma de luta pelos direitos de todos os homens! Morgam Freeman, famoso ator americano aparece em um popular vídeo editado na internet que tem por título ``Negros contra cotas``. Ele, se pronuncia, por exemplo contra ``o mês da história negra``. Também acho desnecesserário. Um dia, como fazem os judeus para  relembrar o holocausto é o suficiente. Um dia, como o Martin Luther King Day, é o suficiente. Só que mais que um dia, o que precisamos é de uma memória, que tanto defendo aqui, que não nos faça esquecer o sangue de escravos que foi derramado. Devíamos fundar museus, criar mais documentários. Alguém já disse que o preço da Liberdade é a eterna vigilância. Provavelmente os judeus jamais passarão por um genocídio tal qual passaram no passado. E isso não se deve ao fato  deles terem menos inimigos hoje. Mas é porque eles criaram uma memória que não os deixa esquecer do que passaram. Eles criaram uma memória que impede que o mundo esqueça. Devíamos retirar os nós dos altos impostos que pesam sobre os ombros de toda população.  Grandes empresários surgiriam daí, grandes artistas e atletas também. Se já temos grandes estrelas negras, mais ainda teríamos! A ausência de liberdade é que é uma matadora de sonhos… O maior opressor que existe nos nossos dias é o Estado. Sem as suas garras, muitas flores iriam florescer, e muitas delas seriam pretas! Cruz e Sousa foi acusado de ser leviano em relação ao abolicionismo. Dos nossos grandes literatos, foi um dos mais pretos que houveram, ele tornou-se um dos maiores ícones do simbolismo brasileiro. Sua apreciação à cor branca choca muitos críticos, que o acusam de ter sido racista. Por eu ter elogiado algumas vezes  a brancura na beleza feminina, já fui alvejado com a mesma pecha. Castro Alves subiu às nuvens para clamar aos Céus a justiça divina. Interpelou com sua poesia o criador, suplicou para que as futuras gerações não fossem cumplíces da desonra, derramou fortes lágrimas em versos como fossem sangue dos nossos avós e bisavós! Nosso grande Machado, mulato de pele, por isso preto também, denunciou a hipocrisia humana, elevou a estética da narrativa literária, fundou a Academia brasileira de Letras. Todos estes, com um pouco de liberdade que lhes foi dada, com um pouco da oportunidade que lhes apareceu, foram capazes de brilhar sobre os Céus da nossa nação. Com exceção de Castro Alves, os outros eram pretos. As suas memórias jamais poderiam morrer. Assim como os americanos tem o MLK day, os judeus tem dezenas de museus que não deixam o mundo esquecer do holocausto. Eles relembram ano após ano o crime que fora cometido contra os seus ancestrais, alguns deles, vivos ainda… Eu particularmente sou contra as cotas. Eu acho que temos é que criar esta memória. Assim como os judeus fazem no dia da Lembrança do Holocausto, nós temos que fazer também. Não é possível recriar artificialmente uma justiça social. Não é justo punir os outros com privilégios criados artificialmente pelo Estado. Eu não quero privilégios, muito menos concebo uma cultura de ódio, na qual alguns chegam a pregar morte a outras etnias. A controversa figura de Mandela me ensina uma outra cultura. Este líder que está longe de ser uma unânimidade entre os conservadores tem para mim um  mérito importante a ser observado: ao evitar uma guerra civil ele ensinou  uma cultura de perdão e de paz. No meu entender, assim como para o conservador Nivaldo Cordeiro, o saldo de Mandela como estadista, foi positivo. Por fim quero dizer que eu reconheço minha ancestralidade. Quero dizer que todo preto é livre pra sambar ou dançar valsa, pra tocar Country ou tocar Blues, pra fazer um black power ou para alisar a cabeleira. Queria dizer, contra qualquer xenofobia, que me sinto livre para aprender de cultura oriental a cultura nórdica. Que interesso-me pelas pirâmides do Egito e pelas religiões da Índia. Se servir de estímulo para os que acreditam em pureza étnica, gostaria de dizer que já está provado que nem pureza étnica existe. Um preto do Congo tem sangue branco, e acreditem, o finlandês mais branco, tem sangue preto. A ciência já comprovou! Queria dizer que nessa consciência que tenho, diante da memória preta que há, acho linda uma bata africana, amo o samba que me faz cantar, amo o Blues que me faz sangrar nos bends que toco na minha guitarra, aprecio o gospel que a tantos emociona. Uma memória preta não forçará ninguém a ser preto. Não fará uma lavagem cerebral na consciência de ninguém. Apenas mostrará a todos os homens o sangue vertido nas costas dos meus ancestrais, os cortes feitos pela chibata, pelo chicote! Para que assim, o ocidente, que é como um porto seguro para as nações da terra, não deixe ocorrer os horrores do passado novamente nem eu seu próprio chão, e se possível, nem nas terras mais longínquas, onde os horrores são maiores. E para que continue sendo o porto seguro que é as para pessoas de todos os povos, alguns dos quais infelizmente não ensinados ainda, na humanidade. Que  nenhuma cor, de nenhuma etnia, sofra as agruras que os negros sofreram. Para todos os que tem cor de ébano gostaria de emitir uma mensagem especial: não se vitimizem, confrontem os perversos, desprezem os ignorantes, lutem pela liberdade, lutemos todos pela liberdade. E lembremos todos, que mais do que ser preto, ou branco, ou amarelo, mais do que ser vermelho ou qualquer outra cor, mais que isso é ser humano! Que sejam livres todos os povos!!!


Júlio Servo

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