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À margem do abismo parei e pensei
Tua poesia já me era difícil desde as primeiras letras
Dos primeiros versos, dos versos concretos
Aprofundou-se em densas trevas, caminhou por obscuros sentidos
Sem ler muito e sem escrever um tanto
a minha foi se esgotando e se tornando bruta
De substância sólida, consistente.
Poesia pedra pra ser lapidada por outro poeta, pelo bom leitor
Desenho, simples e negro.
Sim, eu a faço assim: Como um desenhista!
Distancio-me do pintor que colore as partes vazias e do escultor que aflora em sua obra com dimensões e protuberâncias
Minha poesia é como um desenho à lápis
marcando sobre o papel branco o grafite escuro, as linhas grossas...
Sombras e Formas quadriláteras, arredondadas, triângulares..
Eu vou riscando a folha e fazendo o mundo
A minha visão está ali exposta
Levando a linha aonde acho que ela deva estar - pra baixo ou pra cima
Planície intuitiva do meu olhar. Montes.
Olhar berço de tudo, nascedouro dos ambientes que crio
Fonte de possíveis fantasias, origem da poesia
Se uma palavra não está no livro eu invento
E tudo que o meu desenho não possui, o leitor completa, preenche.
Personagens são feitos de circulares robustas, linhas suaves dividem mundo
Portas são retângulos grandes e de espessura imaginária.
A natureza e as coisas são formas bidimensionais difíceis de descrever - indescritíveis!
A vida fica exposta como um esboço, um rascunho, um arquétipo.
E o amor? O amor é no papel um grande rabisco estelar, com muitas linhas, para todas as direções
Irradiando a luz negra do grafite e apontando pra você e para mim.
Tudo que o meu desenho não tem, o leitor completa, preenche.
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